terça-feira, 6 de julho de 2010

Fumar tornou-se hábito primitivo e sem lugar no século 21

OPINIÃO

Fumar tornou-se hábito primitivo e sem lugar no século 21

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA

Acendo um cigarro. É horrível o aroma que ele exala. São infernais os males que produz.
Por favor, não fume. Fumar é hábito primitivo, sem lugar no século 21.
O fumante é um sujeito arcaico, um órfão ridículo dos romantismos modernos e das utopias malsãs, emparedado entre duas épocas.
Acabou a época em que fumar ajudava a viver a vida, feita de misérias incontornáveis, confrontos ideológicos sangrentos e paixões inúteis.
Vejo a foto dos soldados fumando no front inútil da Guerra de 1914, quando o hábito do cigarro se espalhou como peste. Vejo Faulkner e Kerouac, com o cigarro à boca, na inútil tarefa de fazer a literatura abarcar o mundo.
Era um tempo de urgências, pois a vida não valia grande coisa e não compensava medi-la na extensão, mas sim na intensidade dos atos, das palavras e das lutas.
Fumar significava suspender o tempo e criar um intervalo de bonança. Ou acelerar o tempo e sonhar, entre tragadas, que o futuro se precipitava sobre o presente, soprando revoluções.
Agora, fumar é anacronismo. Vivemos na melhor das épocas: os remédios corrigem os desesperos, as ideologias só propagam felicidades, a liberdade é problema da saúde pública. Fomos todos maravilhosamente "pervertidos pelo conforto", como previu Rimbaud.
Acendo um cigarro.